EDITORIAL - A frase "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade", atribuída a um autor desconhecido, destaca uma verdade essencial sobre o papel do jornalismo na sociedade contemporânea. Em um mundo cada vez mais marcado pela manipulação da informação e interesses particulares, o jornalismo independente se coloca como pilar fundamental da democracia. A história está repleta de exemplos que comprovam o impacto do jornalismo na revelação de fatos que muitos prefeririam manter ocultos, reforçando a importância desse ofício como ferramenta de transparência e justiça.
Um dos episódios mais marcantes na história mundial é o caso do Watergate, ocorrido nos Estados Unidos na década de 1970. O trabalho investigativo dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do The Washington Post, levou à descoberta de um esquema de espionagem política que envolvia o presidente Richard Nixon. A insistência em publicar informações desconfortáveis ao governo, mesmo diante de pressões e tentativas de silenciamento, resultou na renúncia do presidente e revelou ao mundo a força do jornalismo como guardião da verdade.
No Brasil, temos o recente caso da operação Lava Jato, onde o trabalho de jornalistas e veículos de comunicação foi essencial para expor um esquema de corrupção de proporções gigantescas. A série de reportagens da equipe do The Intercept Brasil, em 2019, revelando conversas privadas de integrantes do Ministério Público e juízes, demonstrou como o jornalismo pode incomodar os poderosos ao iluminar comportamentos e práticas que, de outra forma, permaneceriam longe do escrutínio público. Esse episódio reacendeu debates sobre os limites éticos do poder judiciário e os riscos de um sistema corrompido pela falta de transparência.
A informação de fontes fidedignas é conhecimento. | Crédito: Pexels
Mas ao mesmo tempo em que a imprensa cumpre esse papel de expor o que deve ser revelado, enfrenta pressões constantes advindas dos que se julgam donos da razão e, porque não dizer, da própria verdade. Em tempos de redes sociais e fake news, a credibilidade da verdadeira imprensa é constantemente questionada, enquanto o sensacionalismo e a publicidade disfarçada de notícia ganham cada vez mais espaço. A frase "Todo o resto é publicidade" nos alerta para esse risco: quando o jornalismo deixa de investigar, de questionar, de incomodar, ele se transforma em um simples braço de propaganda de interesses, em sua maioria, nada republicanos.
Um exemplo emblemático dessa transição arriscada é a ascensão de líderes políticos que, com o suporte de meios de comunicação, têm evitado a crítica e ajustado a narrativa em função de seus próprios interesses. O uso extensivo de fake news na história recente do Brasil, principalmente em períodos eleitorais, mostra que a verdade jornalística pode ser ofuscada por uma avalanche de desinformação e propaganda política.
A informação de fontes fidedignas é conhecimento. | Crédito: Pexels
No entanto, é exatamente diante desses desafios que o jornalismo reafirma sua relevância. Mais do que nunca, a sociedade precisa de uma imprensa vigilante, que atue como contraponto aos poderes estabelecidos. Seja investigando corrupção, desmascarando fake news ou expondo abusos de poder, o jornalismo independente garante que as democracias continuem vivas e os direitos dos cidadãos sejam respeitados.
A frase que abre este artigo nos lembra que o bom jornalismo, aquele que de fato cumpre sua função social, nem sempre agrada. Ele desestabiliza, expõe, confronta. É essa a essência do ofício: publicar o que alguém não quer que seja publicado, mesmo que isso gere desconforto. Afinal, sem esse compromisso inabalável com a verdade, restaria apenas a publicidade. E publicidade, diferentemente do jornalismo, não transforma o mundo.