A Lei n.º 12.232/2010 é clara: a administração pública pode contratar agências de publicidade para difundir campanhas institucionais por diversos canais, incluindo, por interpretação técnica, os portais de notícias online. Legal? Sim. Necessário? Também. Num país continental como o Brasil, onde a comunicação oficial precisa chegar até o último canto, veículos regionais e digitais cumprem um papel vital.
Mas há um calcanhar de Aquiles nessa história: a independência editorial. Afinal, quem paga a conta costuma também querer escolher a música. E quando o patrocinador é o próprio governo, a relação entre imprensa e poder escorrega fácil da legalidade para a conveniência.
É aí que mora o problema.
Não é raro ver portais “esquecendo” de publicar denúncias, escândalos ou simplesmente qualquer crítica que envolva a gestão que lhes banca. Coincidência? Pouco provável. Basta observar com atenção: muitos veículos que recebem verba pública parecem sofrer de amnésia seletiva (noticiam o que convém, ignoram o que incomoda).
Não se trata de ilegalidade, mas de algo ainda mais perigoso: a erosão da credibilidade.
Como confiar numa imprensa que evita mexer em vespeiro quando o enxame veste crachá de prefeitura, governo ou câmara? Como esperar jornalismo sério de quem depende financeiramente do alvo da própria cobertura?
A linha entre o institucional e o chapa-branca é fina, e, muitas vezes, convenientemente borrada.
É óbvio que a comunicação pública precisa existir. O cidadão tem o direito de saber o que seus representantes estão fazendo. Mas quando a verba vira mordaça, quem perde é a sociedade.
Portanto, cabe ao leitor (esse, sim, o verdadeiro financiador do serviço público) manter o olhar crítico. Nem toda notícia é informação. Às vezes, é só propaganda vestida de jornalismo.
Desconfie da unanimidade. Questione o silêncio. E, acima de tudo, entenda: liberdade de imprensa não se mede pela ausência de censura, mas pela coragem de publicar o que desagrada.